Faz 5 anos que moro sozinha. Faz 5 anos que eu erro rude as medidas na hora de cozinhar. Eu simplesmente não consigo fazer pouca comida. Faço sempre quantidade para alimentar casa cheia. Na hora de montar o cardápio junto as minhas referências afetivas e gustativas, tornando quase impossível o preparo de apenas uma ou duas porções. Obviamente fazer tudo na medida do meu olho não ajuda em nada. Quando dou por mim, já escolhi a maior panela que tenho, com a desculpa de que é mais fácil pra mexer. A verdade é que as melhores comidas que eu tenho na lembrança, foram compartilhadas com gente pra caramba. E eu gosto da abundância e da fartura, seja nos alimentos ou nos afetos.
Fazer comida pra várias pessoas me conforta. É esquisito, mas eu tenho uma satisfação enorme em pensar o menu, ir ao mercado buscar os ingredientes, montar um mise en place rústico e adentrar nos aromas próprios da cocção. Posso dizer que cozinhar é uma das minhas linguagens do amor. Veja bem, cozinhar, não serviços de um modo geral, sei lá, achei bom frisar. A outra linguagem do amor latente em mim é o presentear, fico animada em gastar tempo pensando no que toca a emoção do outro. Em muitas vezes essa emoção tá ali pelo estômago. Ou será que é a minha emoção que está e eu não consigo mais dissociar? O fato é que eu sou a pessoa que mais presenteia os outros com cestas de café da manhã, vale pizza, chocolates, doces e toda sorte de comidas.
Gosto também de proporcionar tempo de qualidade. Um cafezinho sem pressa e muita conversa jogada fora, esse é meu tipo de rolê. É, meio que tá claro que eu ressignifico todas as linguagens de modo que caiba a comida como pano de fundo. Mas a esta altura você já deve ter se dado conta que, pra mim, comer é extremamente afetuoso. Eu não sei demonstrar importância sem passar pelo estômago. Creio que é por isso que até hoje, passados pouco mais de 5 anos de vida solo, eu continuo escolhendo a maior panela, porque é onde cabe mais afeição.
Vou dividir com você uma das minhas receitas de casa cheia, a que eu sempre erro a mão pra mais.
Feijão Branco no Dendê
Ingredientes
Saudade da Bahia
Satisfação pessoal em cozinhar
Gosto por juntamentos
Meio quilo de feijão branco
1,5l de leite de côco
Folhas de Louro a gosto
Sal a gosto
3 saches de sazon de camarão
150ml de azeite de dendê
Linguiça fina
Modo de Preparo
Canalize a saudade da Bahia, misture com a satisfação pessoal em cozinhar, dê um toque de gosto por juntamentos e inicie o preparo. Deixe o feijão de molho por pelo menos 12h. Após o molho, troque a água do feijão, acrescente o sal e às folhas de louro e coloque pra cozinhar na pressão por 5 minutos a partir de quando a panela começar a chiar. Enquanto isto, refogue a linguiça no azeite de dendê. Passado os 5 minutos do feijão, retire a pressão, e acrescente a linguiça refogada, o azeite de dendê, os saches de sazon sabor camarão e o leite de côco. Misture tudo, cozinhe em fogo baixo por mais 5 minutos e prontinho. Enjoy.
Eu sou a Raici, autora de mim, persistente e teimosa nas horas vagas, cantante, rebolativa e tagarela. Cozinho palavras e afetos. E busco o extraordinário ao meu modo. Sinta-se à vontade, e, caso queira, passe esse texto adiante. Se inscreva pra receber meus escritos sempre que eles decidirem existir. Bon Appetit!
Raici, tem alguma dica de substiuição do sazon de camarão por outro sabor? Sou filha de cidade marítima e não gosto de frutos do mar (eu sei, inadmissível). E fiquei na dúvida se é 1 litro e meio de leite de coco mesmo hahaha (eu sou péssima cozinheira, então acho tudo muito esquisito). Estou amando essa cozinha, beijão!