Eu fui uma criança com pressa de crescer. Sempre gostei da performance de autonomia que os adultos faziam. Podiam se mandar. Decidir o que queriam comer. Escolher o que comprar no supermercado. Podiam usar a louça de visitas se assim o quisessem. Podiam ficar com o melhor pedaço do frango. Determinavam os cardápios e se utilizavam das colheres de pau. Ousavam nos temperos. Comida de adulto sempre me pareceu melhor. Então sim, eu mal pude esperar a minha vez de usufruir de todos esses elementos que povoavam o meu olhar, eu queria ser grande o quanto antes.
Quando comecei a ser adulta e responsável por mim, entrei em contato com esses fazeres que tanto me fascinavam enquanto criança. E é neles que hoje reside um dos meus principais contentamentos: Escolher o cardápio! Eu simplesmente amo ir ao mercado. Adoro gastar tempo nos corredores, sem pressa, pensando a composição do menu enquanto circulo pelos ingredientes, e dali já descambo a pensar todas as vezes que aqueles gostos nutriram alguma história minha, me ocorre mandar um oi para a amiga que adora meu purê e assim vou fantasiando sabores, aromas, aconchegos e etc. Mas preciso de calma, nada de entrar e sair tal qual um furacão. Aparentemente eu gastei todo meu estoque de pressa na infância, buscando ser gente grande, hoje já não me resta muito esse ritmo acelerado. Pelo contrário, gosto do arrastar do tempo que se agarra, do cheiro de comida que suspende o ponteiro, gosto da contemplação. Gosto de premeditar idas a restaurantes com escolhas bem definidas do que comer, me presentear com sabores protagonistas, com atmosfera de sonho realizado.
Por falar em montagem de cardápio, eu amo construir os menus para meus aniversários. Pode parecer meio obsessivo, e talvez seja mesmo, mas eu amo planejar desde o que eu vou comer no café da manhã, lanche, almoço até a janta. Fazer aniversário em junho moldou (e molda) minhas comemorações.Como boa nordestina, meus rituais passam longe das comidas clássicas de aniversário a maior parte das vezes, caminham muito mais lado a lado dum milho assado, amendoim cozido, licor de jenipapo, torta de abacaxi, bolo de puba. É claro que morar no lado gaúcho do país me dificulta bastante o acesso às delícias que tem lugar cativo no meu coração e estômago. Sendo assim, busquei honrar a energia junina e nordestina que me circunda criando novas tradições de comidas possíveis. Ano após ano, eu me deleito fazendo a comida que eu escolhi comer, a refeição conforto que me abraça e, de alguma maneira, a minha mini versão se realiza assim, e eu não sou capaz de desapontá-la. Por isso, busco sempre proporcionar estas alegrias gustativas, idealizadas como comemoração de gente grande, mas a verdade é que tem uma Raizinha que se satisfaz profundamente.
Por vezes me distancio dessas pequenas realizações alimentícias, mas de forma quase mística, enquanto caminho pelas ruas da rotina diária, sou atravessada pelos cheiros de almoço, e nesse instante, saio do transe do automático viver e tento desvendar as notas do aroma, e já desando a ver vídeos de receitas e lembro do que cada sabor me remete, engreno a inventar moda e pensar uma comida que marque a história que eu quero viver.
Cuscuz de Aniversário
Ingredientes
Base
250g de farinha de milho flocada
Sal a gosto
300ml de água
Incremento
200g de carne moída
Pimenta do reino
Sal a gosto
2 Dentes de alho
2 Cebolas
150g Manteiga
3 ovos
150g de queijo mussarela
100g de calabresa
2 Tomates
Cheiro Verde a gosto
Modo de Preparo
A base desta receita é o cuscuz e para fazê-lo, misture a farinha de milho flocada com uma pitada de sal, em seguida acrescente a água para hidratar, deixe a mistura descansar brevemente por 5 minutos. Feito isto, coloque a mistura numa cuscuzeira ou similar e cozinhe por 20 minutos. Ele assim já seria sucesso, mas para dias mais festivos, gosto de incrementar. Em uma panela, refogue o alho na manteiga, acrescente a carne moída, tempere com pimenta do reino e ajuste o sal, deixe cozinhar e reserve. Corte o tomate e o cheiro verde e reserve. Corte a calabresa em cubos e frite com a própria gordura, reserve. Corte a cebola em cubos e refogue na manteiga, reserve. Faça os ovos mexidos e quando estiver quase pronto acrescente o queijo e mexa pra dar uma leve derretida. Por fim, em uma travessa misture bem o cuscuz, a carne moída, a calabresa, a cebola, o tomate, os ovos com queijo e o cheiro verde. E voilá, tá pronto o meu cuscuz de aniversário.
Eu sou a Raici, autora de mim, persistente e teimosa nas horas vagas, cantante, rebolativa e tagarela. Cozinho palavras e afetos. E busco o extraordinário ao meu modo. Sinta-se à vontade, e, caso queira, passe esse texto adiante. Se inscreva pra receber meus escritos sempre que eles decidirem existir. Bon Appetit!